Profissionais do LEVE envolvidos em múltiplas pesquisas sobre a Covid-19 (Foto Liana Coll - SEC/Ascom Unicamp)

UNICAMP ESTUDA VARIABILIDADE DO CORONAVÍRUS, TESTA REMÉDIOS E PREPARA DIAGNÓSTICOS EM MASSA

Por José Pedro Soares Martins

O estudo da variabilidade do novo coronavírus, dependendo da sua “porta de entrada” no Brasil, é uma das missões da força-tarefa montada na Unicamp para o combate à Covid-19. A Universidade Estadual de Campinas também se prepara para a realização de testes em massa na região, entre idosos e demais grupos populacionais, após os diagnósticos já aplicados em funcionários e pacientes do Hospital de Clínicas. As pesquisas em curso na Unicamp, como no caso de possíveis medicamentos para o tratamento da doença, são realizadas em parceria com outras instituições brasileiras e do exterior, como a USP, CNPEM e a Universidade de Oxford, na Inglaterra, com o apoio de organizações financiadoras como a Fapesp.

      Papel central nas ações implementadas pela Unicamp contra a Covid-19 é desempenhado pelo Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (LEVE), o único de nível 3 – em uma escala que vai até 4 – de biossegurança na Região Metropolitana de Campinas (RMC). Os laboratórios com esse perfil são credenciados a trabalhar com agentes patogênicos que podem ser letais e, portanto, os seus profissionais devem ser altamente treinados e ter experiência no manejo desses agentes. O Brasil ainda não tem laboratório nível 4.

      O coordenador do LEVE é o professor de Virologia do Departamento de Genética, Evolução e Bioagentes do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp José Luiz Proença Módena, que falou com exclusividade para o Portal Longevinews. Módena é formado em Biologia pela USP, onde fez mestrado e doutorado, e foi bolsista na Washington University em St. Louis, nos Estados Unidos. Entre suas linhas de pesquisa está a caracterização de mecanismos de patogênese de vírus respiratórios e arbovírus emergentes, como bocavírus humano (HBoV), vírus oropouche (OROV), Zika vírus (ZIKV), vírus La Crosse (LACV), vírus chikungunya (CHIKV) e vírus oeste do Nilo (WNV).

Testes em massa

Um dos eixos de atuação da força-tarefa da Unicamp contra o novo coronavírus, explica o professor Módena, está a estruturação de um laboratório de referência capacitado para realizar diagnósticos em larga escala. Houve então uma mobilização para dilatar a capacidade do Laboratório de Patologia Clínica (LPC) do Hospital de Clínicas da Universidade.

      “Os diagnósticos são fundamentais, para possibilitar o controle dos infectados, identificando aqueles que precisam receber um cuidado maior, e o uso de leitos em hospitais, por exemplo”, explica o professor Módena. Os primeiros testes foram feitos entre funcionários e internados no HC da Unicamp. Entre o dia 1º e 25 de abril foram executados 428 testes, sendo 71 com diagnóstico positivo para a Covid-19. A Universidade agora se prepara para testes em massa em Campinas e região, contribuindo com as ações do poder público e organização dos trabalhos nos hospitais.

      Um mutirão foi acionado para agilizar a capacitação do LPC na realização dos testes de Covid-19. Exames com essa complexidade demandam equipamentos como centrífugas, termocicladores e máquinas de PCR (Proteína C-Reativa) em tempo real. Produzida pelo fígado, a PCR é uma proteína cuja concentração sanguínea aumenta substancialmente quando há indicativo de processos infecciosos ou inflamatórios, como naqueles induzidos pelo novo coronavírus.

     Muitos dos equipamentos necessários para os exames estavam disponíveis em outros laboratórios da Unicamp e houve então um empenho especial para reuni-los, além dos profissionais habilitados a manipulá-los. O professor Alessandro dos Santos Faria, também do IB-Unicamp, foi o coordenador desses esforços. O próprio Módena treinou o pessoal do HC para a execução dos testes.   

Professor José Luiz Proença Módena, coordenador do LEVE (Foto Liana Coll – SEC/Ascom Unicamp)

Ensaios de medicamentos

Um segundo eixo da força-tarefa da Unicamp contra a Covid-19, destaca Módena, está o ensaio de medicamentos que possam ser eventualmente aplicados no tratamento de infectados pelo novo coronavírus. São fármacos disponíveis no mercado e que poderiam ser utilizados em protocolos de tratamento.

     Nestes ensaios, são analisadas as estruturas moleculares dos medicamentos, para identificação de moléculas que possam ser utilizadas na inibição de reprodução do novo coronavírus. Ensaios computacionais e de laboratório já foram praticados em mais de 1600 fármacos. Algumas moléculas consideradas promissoras foram identificadas e em breve os fármacos devem ser disponibilizados para ensaios clínicos com pacientes com doença grave.

     Esta ação específica, de ensaios de fármacos, vem sendo realizada em parceria com instituições como o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), também localizado em Campinas e ligado ao MCTIC, e o Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), do campus da USP em São Carlos.

     Nesta terça-feira, dia 5 de maio, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação, Marcos Pontes, anunciou que um dos fármacos analisados reduziu em laboratório 93,4% da carga viral em células infectadas pelo novo coronavírus. O medicamento será logo testado em pacientes com a Covid-19. É um dos fármacos analisados nos ensaios conjuntos entre o CNPEM, o LEVE da Unicamp e outras instituições.         

Entender o vírus

Outro eixo da força-tarefa da Unicamp contra a Covid-19, observa o coordenador do LEVE, é no entendimento da dinâmica de circulação do novo coronavírus, o SARS-Cov-2. “É preciso por exemplo analisar a variabilidade do vírus, dependendo de sua porta de entrada no país, se foi da Itália, da China ou outro país”, explica o professor Módena, coordenador do LEVE. Nesse plano de compreensão do novo coronavírus, completa, está a tentativa de explicação sobre as causas da diferente progressão do SARS-Cov-2, dependendo do paciente.

      Nessa tarefa específica, de estudo do comportamento do novo coronavírus, são analisados os seus genomas. É feita então uma comparação entre os genomas identificados, de vírus procedentes de uma ou outra região, do município de Campinas ou do país. Em função dessa análise comparativa, é possível verificar a prevalência do novo coronavírus nos diferentes territórios de Campinas ou do país, o que pode facilitar as estratégias de enfrentamento.

     De acordo com as secretarias municipal e estadual de Saúde, Campinas tinha 430 casos confirmados, com 24 óbitos, nesta terça-feira, dia 5 de maio. A avaliação da dinâmica e comportamento do novo coronavírus é realizada em parceria entre o LEVE da Unicamp e instituições como o Laboratório de Medicina Tropical da USP, Universidade de Oxford, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP e Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE).

      “São muitas redes se formando e atuando, nesse esforço mundial contra a Covid-19”, sintetiza o professor José Luiz Proença Módena, o coordenador do laboratório que é exemplo do empenho sistemático – e inédito em suas proporções e escala  – da comunidade científica internacional contra a pandemia que abala as estruturas e paradigmas da humanidade.

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