Entrevista: Dr. Carlos Uehara e os 59 anos da SBGG

A edição #06 do Podcast LongeviNews traz uma entrevista especial com o médico e geriatra Carlos André Uehara, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) na gestão 2018 |2021.

Carlos Uehara tem 46 anos e especializou-se em Geriatria pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. Conversamos com ele sobre os 59 anos de fundação da SBGG, que estão sendo comemorados este ano.

Além de fazer um resgate das origens da instituição e destacar suas principais contribuições ao avanço da Geriatria e da Gerontologia no Brasil, ele comentou também longamente sobre outros temas relacionados ao envelhecimento.

Os impactos e os legados da pandemia da COVID-19 para os profissionais de ambas as áreas, a necessidade de se ampliar o debate a respeito do envelhecimento no país para além da ótica da saúde/doença, a importância da maior discussão sobre cuidados paliativos e o mal do preconceito contra os idosos, chamado de etarismo, são alguns dos temas abordados pelo Dr. Carlos Uehara neste podcast que você confere no player acima (clique na opção “ouvir no navegador” se o áudio não reproduzir automaticamente).

Visionários e pioneiros

A SBGG foi fundada em 1961, e é uma associação que tem o propósito de congregar médicos e outros profissionais de nível superior que se interessem pela Geriatria e Gerontologia. Busca também estimular e apoiar o desenvolvimento e a divulgação do conhecimento científico na área do envelhecimento.

A entidade tem em seu embrião um movimento de profissionais que se organizaram para criar uma instituição brasileira dedicada ao estudo da Geriatria e da Gerontologia, em meados dos anos 1950.

Essa iniciativa e os desdobramentos a partir dela, como a fundação da própria Sociedade Brasileira de Geriatria (então SBG, depois transformada em SBGG), mudaram a abordagem do envelhecimento no Brasil.

“Os fundadores perceberam que o aumento do envelhecimento nos países mais desenvolvidos em algum momento chegaria ao Brasil. É importante lembrar que o processo de envelhecimento populacional no país começou a acontecer de forma mais acelerada somente após a década de 1980. Portanto, eles foram visionários e bastante pioneiros nessa discussão em relação ao envelhecimento humano no Brasil”, destaca Uehara.

Outro ponto que eles enxergaram, prossegue, e constitui uma das características hoje da Geriatria, é que o médico geriatra nunca atua de forma isolada. Ele atua em conjunto com outros profissionais para proporcionar o melhor benefício na prevenção e no tratamento ao paciente idoso.

“Percebeu-se ao longo do tempo que havia a necessidade de trazer novos conhecimentos, novos saberes para o tratamento dos pacientes idosos. Foi quando, vendo a experiência de outros países, pensou-se em agregar também profissionais não médicos à Sociedade, que são os especialistas em Gerontologia, para entender as peculiaridades do envelhecimento, e acabaram sendo incorporados à própria SBGG”.

“Cuidar de um idoso não é cuidar de um adulto velho”

O processo de envelhecimento impacta no comportamento orgânico, demandando abordagens diferenciadas para atender aos objetivos da promoção da saúde, da prevenção e do tratamento das doenças, da reabilitação funcional e dos cuidados paliativos das pessoas idosas.

A Geriatria é a especialidade médica que abrange desde a promoção de um envelhecer saudável até o tratamento e a reabilitação do idoso, assim como crianças e jovens apresentam especificidades que são tratadas pela Pediatria.

“Uma grande diferença do especialista em Geriatria em relação a outras especialidades é que a gente enxerga que o envelhecimento é bastante heterogêneo. Cuidar de um idoso não é cuidar de um adulto velho. O idoso tem muitas peculiaridades de seu próprio envelhecimento, das características das doenças que o acometem, então é necessário ter um olhar diferente para esse paciente”, salienta Uehara.

A Gerontologia, por sua vez, é o estudo do envelhecimento nos aspectos biológicos, psicológicos, sociais e outros. Na área profissional, visa a prevenção e a intervenção para garantir a melhor qualidade de vida possível dos idosos até o momento final da sua vida.

O especialista em Gerontologia atua em diversos campos profissionais referentes ao envelhecimento, como Saúde, Assistência Social, Previdência, Educação e Judiciário, entre outros.

Crenças e preconceitos sobre o envelhecimento

O presidente da SBGG também defende uma mudança no olhar que a sociedade tem do envelhecimento, que é ainda muito ocidental, relacionado sobretudo ao trabalho.

“A pessoa tem o sobrenome corporativo e depois que se aposenta entra em depressão. A pessoa tem que valer por aquilo que fez em vida, pela sua história e por aquilo que ainda pode fazer. Não é porque deixou de trabalhar que se tornou um inútil”, afirma. “O idoso tem aquilo que o jovem nunca vai ter, que é a experiência de vida. É preciso deixar de ver o idoso como alguém obsoleto. O próprio idoso tem essa preconcepção do envelhecimento”.

Ele menciona ainda o preconceito contra os idosos, chamado de etarismo, como um mal muito latente nos dias de hoje, decorrente de crenças que não são verdadeiras a respeito das pessoas mais velhas, como os idosos são todos iguais, debilitados, são incapazes de resolver suas necessidades básicas, não conseguem trabalhar e são um ônus econômico para a sociedade. “Isso evidencia uma discriminação por parte da sociedade em relação aos idosos”, enfatiza.

Longevidade só com planejamento

Para ele, o envelhecimento humano ainda é visto muito pela lógica negativa. “Todo mundo quer envelhecer, mas ninguém quer ficar velho”, observa. E por conta disso, analisa, as pessoas ficam mais propensas a aderir a soluções milagrosas e a terapias antienvelhecimento.

“Mas não existe nem fórmula mágica, nem pílula da longevidade. É preciso um esforço pessoal para que esse envelhecimento seja melhor sucedido. Só conseguimos alcançar uma longevidade se planejarmos esse envelhecimento, se fizermos com que o nosso organismo se desgaste o menos possível ao longo da vida para alcançarmos uma idade mais avançada com independência e autonomia”, orienta. “Envelhecer é um planejamento da vida toda”.

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