Desenvolver atividades empreendedoras a partir dos 50 anos contribui para uma longevidade saudável e produtiva. Crédito da Imagem: Freepik.com/DCStudio

Congresso online busca orientar para o empreendedorismo sênior

03/03/2022 – O Brasil envelhece rapidamente. Aqui, como no resto do mundo, a população sênior é a que mais cresce. As projeções demográficas apontam que em menos de uma década o país terá mais adultos acima dos 60 anos do que adolescentes de 15 anos. O fenômeno da longevidade impacta a economia. Além do crescimento da demanda de produtos e serviços (o público sênior já responde por 20% do consumo), o aumento da expectativa de vida tem permitido aos maduros se manter profissionalmente ativos por mais tempo. Mesmo após a aposentadoria, a chamada “geração prateada” busca canalizar energia, vivência e disposição de continuar produzindo para explorar outras experiências profissionais. Por isso é que a atividade de empreendedorismo no Brasil vem sendo turbinada pelos sêniores. Segundo o Sebrae, o país tem mais de 30% de empreendedores iniciais na faixa etária de 54 a 65 anos. Ainda de acordo com a órgão, donos de negócio com 65 anos ou mais totalizam cerca de 2,2 milhões de empreendedores.

É nesse universo em franca expansão que se insere o 2º Congresso Latino-Americano de Empreendedorismo Sênior, denominação do evento que será realizado na internet de 7 a 11 de março. O acesso é gratuito e os interessados em participar devem fazer inscrição prévia pela plataforma do encontro: https://empreendedorismosenior.org.br/

O evento reúne um conjunto de palestras previstas para ocorrer diariamente, de forma virtual, das 17h às 21h, com transmissão ao vivo em canais do congresso no YouTube, Facebook e Linkedin, apresentadas por especialistas que dissertarão sobre temas como planejamento estratégico, marketing digital, longevidade produtiva, investimento, direito, novas tecnologias, finanças e educação financeira, qualidade de vida, saúde, bem-estar cerebral, tendências e oportunidades.

Os conteúdos buscam incentivar e orientar pessoas com mais de 50 anos a empreender, seja por meio de novos negócios, franquias, ação social ou atuação como profissional independente, entre tantas outras possibilidades, conforme explica o médico com especialização em neurociência do comportamento Jô Furlan, um dos organizadores do encontro.

“Boa parte dos palestrantes tem entre 60 e 75 anos, talvez 10% tenham menos de 50 anos, e são pessoas extremamente produtivas que irão trazer para o encontro um pool de conhecimento e cases relevantes de quem já passou por situações inerentes ao desafio de empreender”, afirma.

É o caso do administrador de empresas Paulo Sérgio de Souza, também organizador do congresso ao lado de Furlan, que após a aposentadoria aos 53 anos decidiu empreender e foi bem-sucedido. “Empreender nessa fase da vida, depois da aposentadoria em muitos casos, é uma decisão difícil. Ficamos com receio de investir os recursos que temos, ficamos em dúvida sobre qual negócio escolher”, reconhece ele, que na palestra “Características do empreendedor sênior – Uma breve história”, pretende compartilhar com o público um pouco de sua trajetória e os aprendizados proporcionados pela experiência para ajudar o candidato a empreendedor a fazer uma transição mais segura.

Impulso empreendedor

Uma das questões cruciais sobre a qual o evento pretende levar o público a refletir é a respeito da natureza do impulso empreendedor nas pessoas 50+.

“Manter a produtividade intelectual é fundamental para se alcançar a longevidade saudável. Desenvolver uma atividade empreendedora, a partir dos 50, 60 anos, é uma das formas de se manter a mente ativa e buscar essa longevidade saudável e produtiva”, defende Furlan. “Empreender é um processo que pode então colaborar com o desenvolvimento e com o bem-estar das pessoas, e também gerar negócios capazes de impactar efetivamente a economia”.

Por isso, tornar-se empreendedor não significa necessariamente virar dono de um negócio. Segundo Furlan, o mais importante é o sênior conseguir identificar, após décadas de dedicação ao trabalho, à construção de uma carreira, com qual atividade pretende agora utilizar parte de seu tempo livre, considerando suas habilidades e competências. Deve ser algo capaz de motivá-lo a se levantar da cama toda manhã e trazer satisfação pessoal, podendo ou não proporcionar uma nova fonte de renda. O recomendado é que o projeto tenha um propósito de vida, destaca ele.

“Nem sempre o retorno financeiro é o principal objetivo. Às vezes a pessoa pretende fazer empreendedorismo social, quer ser voluntária em uma entidade filantrópica ou até mesmo abrir uma instituição sem fins lucrativos. Por isso, definir o motivo pelo qual alguém deseja empreender é o primeiro passo”, aconselha Furlan, que também é palestrante e ministra cursos sobre empreendedorismo sênior no Programa para a Longevidade (UniversIDADE) da Unicamp, em Campinas.

Jô Furlan: empreender com propósito de vida

Atenção às peculiaridades

Mas se a opção for selecionar uma ideia de negócio e envidar esforços para viabilizá-la, é essencial compreender que um empreendedor sênior, em comparação ao de uma outra faixa etária, tem peculiaridades que devem ser respeitadas.

“O empreendedor 50 mais precisa saber planejar melhor, porque ele tem menos tempo para recuperar investimentos que venha a fazer e corrigir variações que podem ocorrer e são habituais no caminho de quem busca concretizar um negócio”, pondera Furlan. “Um aspecto que enfatizamos muito é que o empreendedor sênior não tem que ser ousado, ele tem que ser prudente, conservador. Deve ser capaz de mensurar a repercussão de sua decisão, no médio e no longo prazo, em sua vida pessoal, afetiva e financeira”.

De acordo com Furlan, entre os cuidados que devem ser considerados pelo empreendedor sênior estão: estabelecer metas de tempo de dedicação no desenvolvimento e na gestão do negócio, para evitar ficar sem tempo livre; e dimensionar de forma muito criteriosa os recursos disponíveis para investir na empreitada de forma a não comprometer o padrão de vida ou um patrimônio acumulado muitas vezes com sacrifício ao longo de anos.

Palestrantes

Além de ambos os organizadores do evento, entre os demais palestrantes confirmados estão Adriana Maria De Fávari Viel, diretora secretária e fundadora do IBDPI – Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa Idosa; Daniel Takaki, diretor da Inovaction, iniciativa com foco no desenvolvimento social sustentável; Davi Vidigal, médico psiquiatra e palestrante comportamental; Edna Vasselo Goldoni, empreendedora social, fundadora e presidente do Instituto Vasselo Goldoni, projeto de ação social sem fins lucrativos voltado ao empoderamento e à sororidade entre as mulheres; Fábio Ota, CEO da ISGAME – International School of Game; Fran Winandy, psicóloga com experiência na área de recursos humanos e especialização em diversidade etária, autora do livro “Etarismo, um novo nome para um velho preconceito”; Alice Helena De Danielli, coordenadora do Programa UniversIDADE da UNICAMP; Gustavo Cerbasi, consultor financeiro, palestrante, administrador e autor de livros, entre eles o best-seller “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos”; Mirko Mayeroff, mentor de startups e um dos pioneiros na área do comércio eletrônico no Brasil; Waldyr Soares, empreendedor do segmento fitness e responsável por organizar no país o principal evento do setor, a IHRSA Fitness Brasil; e Jober Chaves, empresário, cofundador da Universidade do Inglês e autor dos livros “Rompendo a Barreira do Primeiro Milhão” e “O poder da coragem: as cinco chaves do sucesso que vão mudar a sua vida”.

O Congresso Latino-Americano de Empreendedorismo Sênior teve a sua primeira edição realizada de forma presencial na Unicamp, em Campinas, em 2019. A edição virtual deste ano tem novamente o apoio da instituição, do Programa da Universidade para a Longevidade (UniversIDADE) e do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa Idosa (IBDPI).

Associação e ebook

Durante o evento haverá o lançamento da Associação Brasileira de Empreendedorismo Sênior (ABES), constituída por Jô Furlan e Paulo Sérgio de Souza com o propósito de dar maior representatividade ao setor, bem como atuar coletivamente para o fortalecimento da atividade no país. “Queremos reunir pessoas que olhem juntas na mesma direção”, sintetiza Furlan.

A entidade, que a princípio funcionará de forma virtual, pretende sobretudo disponibilizar o suporte de profissionais para orientar o empreendedor sênior em seu plano de negócios, oferecendo a ele subsídios sobre questões contábeis e jurídicas, entre outras, para ajudá-lo a refletir sobre os impactos que a decisão de empreender traz, para que se conscientize dos riscos, das dificuldades, “e possa até mesmo chegar à conclusão de que não deseja essa atividade para a sua vida”, pontua o médico neurocientista.

“O empreendedorismo sênior pode até deixar alguém muito rico, mas isso é uma exceção. A regra é que seja um projeto de negócio inicialmente pensado para possibilitar uma complementação de renda e pode vir a se tornar a principal fonte de rendimentos do empreendedor, dependendo do padrão de vida de cada um”, observa Furlan, enfatizando que a compreensão desse conceito é essencial para evitar frustrações futuras com resultados que eventualmente não sejam aqueles imaginados pelo empreendedor.

Ele também adianta que uma das bandeiras institucionais da ABES será envidar esforços por condições de financiamento e linhas de crédito mais acessíveis para empreendedores sêniores.

Em outra iniciativa da dupla, Furlan e Souza planejam lançar em breve um ebook em que pretendem compartilhar experiências, dicas e conselhos para ajudar os leitores a empreender com mais segurança a partir dos 50 anos.

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