Aluno orienta participantes de oficina on-line: oportunidade para relacionamento intergeracional. Foto: divulgação.

PUC-CAMPINAS É A PRIMEIRA DA AMÉRICA DO SUL A INGRESSAR NA REDE DE UNIVERSIDADES AMIGAS DO IDOSO

Paulo Cesar Nascimento

No início dos anos 1990, a PUC-Campinas lançou um pioneiro programa para formação de idosos interessados em desenvolver estudos no âmbito do ensino superior, a Universidade da Terceira Idade. O histórico e a tradição na oferta, desde aquela época, de projetos pedagógicos e de iniciativas de extensão universitária para o público 60+, contribuíram para que a instituição ingressasse em agosto deste ano na Age-Friendly University (AFU) Global Network (Rede Internacional de Universidades Amigas do Idoso).

É a primeira universidade da América do Sul a fazer parte dessa comunidade global que reúne mais de 80 instituições de ensino superior na América do Norte, Ásia e Europa (confira a relação aqui) e que têm em comum a adoção de atividades favoráveis aos idosos, em consonância com os denominados Dez Princípios de uma Universidade Amiga dos Idosos (conheça aqui), desenvolvidos pela Dublin City University (DCU), da Irlanda, autora da iniciativa de criação da AFU.

Lançada em novembro de 2012, a proposta da Universidade de Dublin tinha como objetivo identificar contribuições que instituições de ensino superior pudessem fazer com vistas à preparação da sociedade para os desafios multifacetados do envelhecimento demográfico e à promoção da qualidade de vida da população idosa.

As iniciativas da universidade campineira para o público sênior hoje são articuladas pelo Vitalità – Centro de Envelhecimento e Longevidade, projeto implantado em 2020 que envolve os setores de graduação, pesquisa e extensão da instituição para o desenvolvimento de ações focadas no público acima de 60 anos.

Foi o gerontólogo Alexandre Kalache, fundador e presidente do Centro Internacional de Longevidade (ILC) Brasil e ex-diretor do Programa de Envelhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), quem sugeriu à universidade a filiação à rede internacional. Codiretor da AFU, o médico participou da webinar de lançamento do Vitalità, em setembro do ano passado, e, entusiasmado com o projeto, propôs que a instituição pleiteasse seu ingresso na rede, conta a professora-doutora Mariana Reis Santimaria, coordenadora acadêmica do curso de Especialização em Gerontologia e Geriatria e do Vitalità.

Os contatos iniciais entre a PUC-Campinas e a Universidade de Dublin foram intermediados pelo ILC-Brasil, e a aprovação do ingresso na AFU foi precedida da análise de um memorial com as atividades desenvolvidas pela universidade campineira que estivessem alinhadas aos dez princípios preconizados pela rede para a aceitação de novos membros, relata Mariana.

Para ser reconhecida como Universidade Amiga do Idoso, a instituição pleiteante deve estimular a participação dos idosos em todas as suas atividades-fim, incluindo programas educacionais e de pesquisa, além de promover o desenvolvimento pessoal e profissional e apoiar aqueles que pretendem seguir uma segunda carreira. Precisa também fomentar a aprendizagem intergeracional para facilitar o compartilhamento recíproco de experiências entre alunos de todas as idades, contribuindo desse modo para também combater o preconceito etário; proporcionar o acesso desse público a seus programas de saúde e bem-estar, atividades artísticas e culturais, envolver-se ativamente com a comunidade e manter parcerias regulares com organizações que representam os interesses da população em envelhecimento.

“Levamos muito em consideração na elaboração de nossa proposta o histórico bastante robusto que a PUC já tem de serviços para a população com mais de 60 anos”, explica Mariana, em uma alusão ao legado deixado pela então Universidade da Terceira Idade, iniciativa que se tornou referência para programas semelhantes adotados por outras instituições de ensino no país (saiba mais no destaque adiante).

Aluno orienta participantes de oficina on-line: incentivos para a aprendizagem intergeracional. Foto: divulgação.

Oportunidades

A rede compartilha entre seus membros o desafio de promover envelhecimento saudável e ativo por meio de pesquisas, de oportunidades de aprendizagem aprimoradas para pessoas ao longo das gerações, e de inovações para resolver problemas que afetam os idosos.

Ter acesso às experiências dos demais países integrantes da rede global e compartilhar ações com as instituições parceiras são os grandes benefícios proporcionados pela filiação, destaca Mariana.

“Será um intercâmbio de vivências muito enriquecedor, porque a rede é formada por instituições de contextos socioculturais muito distintos e a PUC é a primeira do continente sul-americano a integrá-la, então a relevância de nossa participação é ainda maior, porque poderemos contribuir com experiências em uma realidade diferente daquela dos demais países-membros e que afeta diretamente a questão do envelhecimento populacional”, argumenta.

Por outro lado, Mariana também observa que a inserção na AFU permitirá conhecer mais de perto as experiências de nações que possuem uma cultura do envelhecimento mais sedimentado do que o Brasil e, portanto, estão mais bem preparados para atender as suas populações idosas, no âmbito de políticas públicas de saúde, por exemplo, e identificar oportunidades de crescimento.

“São países que temos como exemplo de transição demográfica no cenário mundial, principalmente por conta do maior acesso às condições de saúde e aumento da qualidade de vida de suas populações. Então, o que conseguirmos aprender com eles, contribuirá para aprimorar as nossas iniciativas voltadas a preparar melhor a nossa sociedade para o fenômeno da longevidade, no sentido de valorizar as pessoas à medida que envelhecem e garantir a participação delas na sociedade diante da maior expectativa de vida”, avalia.

Mariana Reis Santimaria, coordenadora do Vitalità. Foto: divulgação.

Eixos de atuação

Frente ao crescente fenômeno do envelhecimento populacional no Brasil, diferentes segmentos da sociedade passaram a dedicar atenção maior ao atendimento das demandas da população idosa. A educação continuada é uma delas. Daí a importância dos projetos interdisciplinares colocados à disposição do público sênior pela PUC-Campinas com o propósito de promover o envelhecimento ativo e estimular o convívio intergeracional, enfatiza Mariana.

Ela explica que a instituição, por meio do Vitalità, tem buscado atender e capacitar a comunidade idosa com base em três eixos de atuação. Um deles é a pesquisa e inovação, que estimula o desenvolvimento de ferramentas tecnológicas para uso do público 60+. Outro eixo é a qualidade de vida, em que são desenvolvidas ações de qualificação profissional para profissionais da saúde. Exemplo é o núcleo de capacitação e treinamento de cuidadores instalado no hospital da universidade. E há ainda o fomento ao empreendedorismo sênior, que articula a elaboração de microempresas e outras iniciativas de negócios para a terceira idade. O Vitalità oferece orientação e mentoria ao interessado em aprimorar uma ideia e elaborar um plano de negócio.

“A aprendizagem ao longo da vida é uma das premissas do envelhecimento ativo”, lembra a professora. “E a universidade tem um papel fundamental a cumprir nesse processo. É nosso propósito integrar cada vez mais as pessoas idosas às nossas atividades. Buscamos não só oferecer formação e capacitação, mas também queremos que esse público, por meio das relações intergeracionais, contribua com a riqueza de suas experiências de vida e conhecimentos para a maior incorporação da cultura do envelhecimento na comunidade interna”.

Grupo de alunos 60+ participa de oficina on-line oferecida pela universidade. Foto: divulgação.

Ensino, pesquisa e extensão

Na graduação, além de vagas para alunos 60+ em cursos com ingresso diferenciado no vestibular, há o incentivo a trabalhos acadêmicos sobre a temática do envelhecimento e para ações de integração intergeracional, informa a instituição. Na pós-graduação, estudantes e docentes são estimulados ao desenvolvimento de estudos com a abordagem de temas relacionados à longevidade. “Envelhecimento, doenças e agravos à saúde” é uma das linhas de pesquisa nesse campo, vinculada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Saúde, que investiga aspectos epidemiológicos em populações idosas e em processo de envelhecimento. Outros projetos abordam o uso das tecnologias inovadoras para monitoramento, prevenção, auxílio, reabilitação do público sênior. E há também o compartilhamento do conhecimento universitário em ações voltadas para a comunidade por meio de seus programas de extensão.

Em paralelo às oportunidades no ensino formal, a universidade disponibiliza cursos e oficinas on-line, onde ensina o público sênior a utilizar recursos básicos de informática, em especial o uso de redes sociais, bem como oficinas de canto, de cultivo de hortas sustentáveis e um clube de leitura. As oficinas para o público idoso constituem uma importante oportunidade de envolvimento intergeracional, ressalta Mariana, já que os seus monitores são alunos voluntários que passam por treinamento e depois são supervisionados por professores e pela equipe do Vitalità. 

A expectativa é que as atividades retornem gradualmente à modalidade presencial, à medida que as restrições impostas pela pandemia da Covid-19 sejam flexibilizadas, porém conviverão com as aulas virtuais, que serão mantidas.

“Embora as oficinas fossem inicialmente uma ação para a Região Metropolitana de Campinas, ficamos surpresos com a procura pelos cursos por parte de interessados de outras regiões do país, já que a educação digital proporciona um alcance muito além de nossas fronteiras. Pensando então em ampliar sempre as oportunidades para levar conhecimento por meio da estrutura que a universidade oferece, decidimos repensar a proposta de retomar somente o presencial e manteremos os dois formatos”, esclarece Mariana.

Instalações do Vitalità no campus I da PUC-Campinas. Foto: divulgação.

Com 300 idosos cadastrados e atendidos, o Vitalità ganhou em junho deste ano instalações próprias para a realização de suas atividades no campus I da PUC-Campinas. Além de receber o suporte dos setores de graduação, pesquisa e extensão da universidade, o centro atua por meio de parcerias com instituições e organizações externas, como o Conselho Municipal do Idoso em Campinas, a Secretaria Municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos da Prefeitura de Campinas e o Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa Idosa (IBDPI), organização civil sem fins lucrativos voltado ao amparo e à defesa da pessoa idosa.

UNIVERSIDADE DA TERCEIRA IDADE FOI MODELO PARA O BRASIL

José Pedro Soares Martins

Não é recente a atenção da PUC-Campinas para o processo de envelhecimento, na linha da busca por um envelhecimento ativo, saudável. Pelo contrário, a Universidade da Terceira Idade, estabelecida em agosto de 1990, no âmbito da Faculdade de Serviço Social da instituição, foi uma das pioneiras em sua área no país, constituindo um modelo para iniciativas semelhantes em outras regiões de São Paulo e do Brasil.

Sob a gestão da professora Dra. Jeanete Liasch Martins de Sá, a Universidade da Terceira Idade foi idealizada com o propósito de viabilizar a inserção de pessoas idosas no contexto universitário para, na perspectiva da educação permanente, participarem de atividades educativas, socioculturais, organizativas, intergeracionais e de ação comunitária.

Estruturada como parte das ações de extensão da PUC-Campinas, a Universidade da Terceira Idade, cujo conceito foi baseado no modelo francês proposto por Pierre Vellas, oferecia cursos em diversos segmentos, das artes à inclusão digital, da saúde à alimentação, da educação física ao mundo o trabalho.

Em meados da década de 2010 o serviço também passou a oferecer cursos como: Impactos na Maturidade, Empreendedorismo Social, Campinas e seu Patrimônio Histórico-Cultural e Arquitetônico, Memória e Vida, Mente, Cérebro e Envelhecimento, Alimentação e Nutrição e A Arte e a Técnica de Fotografar na 3ª Idade (Fotografia Digital).

Alunos que passaram pelos cursos se tornaram professores de novas turmas. Muitos alunos permaneceram durante anos na Universidade, tão fortes foram os vínculos firmados e inspiradores os temas abordados.

A Universidade da Terceira Idade da PUC-Campinas começou a implementar na prática, antes do Estatuto do Idoso de 2003, princípios da Política Nacional do Idoso, de 1994. O que está previsto na Política Nacional, com relação às Universidades da Terceira Idade e ao imperativo da educação permanente, teve aliás grande contribuição de propostas formuladas pela instituição campineira e defendidas por Jeanete Martins de Sá. O mesmo ocorreu no processo de oficialização do Estatuto do Idoso. São alguns dos legados da iniciativa de grande alcance social desenvolvida em Campinas.

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Para outras informações: https://www.puc-campinas.edu.br/vitalita/

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