Observatório da PUC-Campinas faz monitoramento de dados da Covid-19 na RMC (Foto Adriano Rosa)

Covid-19: Idosos precisam ter cuidado redobrado com flexibilização, alerta infectologista

Por José Pedro Soares Martins

As pessoas idosas, que integram o grupo de maior risco para a Covid-19, precisam ter cuidado redobrado no atual momento de flexibilização do isolamento social, caracterizado pela reabertura de comércio e outras atividades econômicas e até por grandes aglomerações. O alerta é de Andre Giglio Bueno, infectologia do Hospital da PUC-Campinas. Ele é um dos participantes do monitoramento da pandemia na Região Metropolitana de Campinas (RMC), feito pelo Observatório da PUC-Campinas.

“Em momentos de flexibilização, pessoas já cansadas com a quarentena estão diminuindo a adesão a medidas de prevenção. É o caso principalmente dos mais jovens, que estão se expondo mais e entre os quais estão aparecendo mais casos de infecção, como tem ocorrido na Europa. Então as pessoas que fazem parte dos grupos de maior risco, como os idosos, sobretudo aqueles com comorbidades, devem ter cuidado redobrado”, explica o infectologista, em entrevista ao Portal Longevinews.

Andre Giglio Bueno lamenta a “politização das vacinas” (Foto Divulgação)

Andre Giglio Bueno observa que nos próximos dias a Região Metropolitana de Campinas (RMC), composta por 20 municípios, assim como outras regiões do território paulista, devem entrar na fase verde do Plano São Paulo, do governo estadual. O Plano São Paulo contempla cinco fases para a reabertura gradual das atividades econômicas e que são implementadas de acordo com critérios científicos: vermelha (a de maiores restrições), laranja, amarela, verde e azul (de retomada plena das atividades.

O primeiro balanço do Plano São Paulo, no dia 3 de junho, apontou que três regiões (Grande São Paulo, município de São Paulo e região de Registro) estavam na fase vermelha, 10 regiões estavam na fase laranja e apenas quatro, na fase amarela. No dia 11 de setembro, todas as regiões estavam na fase amarela, de flexibilização das atividades. A partir do dia 8 de outubro, algumas regiões do estado devem passar para a fase verde, em função do decréscimo do número de casos e óbitos por Covid-19 e da diminuição do Número Reprodutivo Efetivo (Re), indicador que aponta quantas pessoas em média um doente pode infectar.  “Quando este valor está acima de 1, entende-se que a epidemia está em expansão; quando está igual a 1, estabilidade; e abaixo de 1, indicaria um declínio da epidemia”, explicou a nota técnica do Observatório da PUC-Campinas, sobre a semana de 12 a 19 de setembro.

Com a entrada de várias regiões de São Paulo na fase verde, Andre Giglio Bueno adverte que a precaução por parte dos integrantes de grupos de maior risco deve ser intensificada. “As pessoas mais idosas com comorbidades entenderam que é preciso manter cuidado em nível máximo e não se expor. Assim a mensagem essa nesse momento de maior flexibilização em nossa região, que deve ir para a fase verde do Plano São Paulo, é de manter a cautela, Apesar da desaceleração, ainda existe a circulação do vírus. Enquanto a situação não acabar, com uma vacina segura, eficaz e devidamente comprovada, as pessoas de maior risco devem ter muita prudência”, reitera o especialista do Hospital da PUC-Campinas.

Politização das vacinas

O infectologista lamenta, a respeito, que esteja ocorrendo o que chama de “politização” das vacinas e outras questões relacionadas à pandemia de Covid-19. Ele nota que “estamos vendo nesse caso grave de saúde pública o que não ocorria antes, com muitas divergências a respeito de vacinas e outros itens da pandemia”, Andre Giglio Bueno observa que “está havendo uma disputa com outros fins que não são exclusivamente os da saúde da população”, que deveriam prevalecer.

“Percebo que tem havido uma precipitação de um estado ou município em se antecipar e anunciar que já comprou esta ou aquela vacina, provavelmente com objetivo político”, comenta o médico. “Esses anúncios precisam ser feitos com calma. Pode ser que a chegada da vacina demore mais do que o esperado. O tempo médio para o desenvolvimento de uma vacina geralmente leva muitos anos. A vacina mais rápida até hoje demorou quatro anos para ser disponibilizada”, destaca.

O infectologista assinala que todas as vacinas devem passar por estudos clínicos e profunda avaliação de seus riscos, com todo rigor possível. “Então é preciso ter tranquilidade e não se antecipar. Se eventualmente for liberado o uso de uma vacina, sendo aplicada em larga escala e apresentar um efeito adverso, então é necessário parar tudo, começar do zero. É preciso que a vacina seja eficaz e aprovada apenas com toda a segurança e esse processo pode ser mais lento do que as pessoas esperam”, completa Andre Giglio Bueno.

Diversas vacinas estão em fase de teste no Brasil. A vacina de Oxford contra a Covid-19, produzida pelo laboratório AstraZeneca e pela Universidade de Oxford, está na terceira e última fase de testes em humanos no Brasil e em outros países. Um crédito orçamentário extraordinário aberto pelo governo federal, por meio de provisória e no valor de R$ 1,9 bilhão, foi previsto para a aquisição de 100 milhões de doses da vacina de Oxford ao Brasil, implicando ainda na transferência de tecnologia ao país.

Outra vacina é a CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo. A vacina está na fase 3 de testes, a última antes de uma eventual aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No dia 30 de setembro o governador de São Paulo, João Doria Júnior, anunciou a efetivação de contrato com o Sinovac, prevendo o recebimento em dezembro de 46 milhões de doses da CoronaVac. Se for devidamente aprovada pela Anvisa, a vacinação de profissionais de saúde pode começar em 15 de dezembro, segundo Doria. Os estados do Paraná e Bahia já anunciaram acordos com e Rússia, para aquisição de vacinas Sputnik contra a Covid-19.

Pirâmide etária de óbitos por Covid-19 na RMC (Fonte: Observatório da PUC-Campinas)

Covid-19 na RMC

O Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/) disponibiliza desde o início do mês de julho um painel interativo, com atualização permanente de dados sobre a Covid-19 na Região Metropolitana de Campinas (RMC), compreendendo os municípios de Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d´Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo. O painel também mostra a situação em toda a região compreendida pelo Departamento Regional de Saúde de Campinas.

“Com o surgimento da pandemia, o Observatório não poderia deixar de atuar e então foram criadas ações como um painel interativo, com dados atualizados, e as notas técnicas, formuladas pelos docentes e alunos”, afirma o professor extensionista e economista do Observatório da PUC-Campinas, Paulo Ricardo da Silva Oliveira.

Comorbidades nos óbitos por Covid-19 na RMC (Fonte: Observatório da PUC-Campinas)

Essas notas técnicas, citadas por Oliveira, mostram que a evolução da pandemia na RMC seguiu padrão similar ao de outras regiões brasileiras, com intenso crescimento de casos e óbitos a partir de junho e desaceleração desde meados de agosto. Na semana de 12 a 19 de setembro, houve novo aumento de casos e óbitos, o que os especialistas atribuíram provavelmente ao relaxamento das medidas de proteção por parte da população, sobretudo durante o feriadão de 7 de setembro.

Os dados registrados e analisados pelo Observatório mostraram que na faixa etária de 60 anos e mais tem ocorrido o maior número de casos graves e de óbitos por Covid-19 na RMC, assim como aconteceu em outras regiões do país e no mundo. Até o dia 2 de outubro, foram registrados 77.997 casos confirmados na região, com 2.487 óbitos no conjunto dos 20 municípios.

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